Dedico a Minha Querida e Bela Mãe: Ruth dos Anjos!!! |
Hoje precisava escrever pra minha mãe, mas confesso que estava sem
qualquer inspiração. Gosto de escrever textos bonitos, emotivos, e se minha
capacidade intelectual permitir: textos inteligentes!
Achei que a minha mãe ficaria muito chateada se escrevesse sobre
tantos assuntos no meu blog, e não conseguisse escrever um texto, mesmo que simples,
pra homenagear essas pessoas fantásticas que denominamos MÃES.
Como um filho desnaturado que sou, pensei: vou me embriagar pra poder
ficar emotivo e escrever algo bonito pra ela... Mas meus amigos, a minha mãe
odeia boteco! No entanto, estava me sentindo tão incapacitado emocionalmente,
que não teve outro jeito.
Sai a esmo pelo centro da cidade em busca do melhor lugar pra encher a
cara. De repente, me deparo com o Bar da Mãe, então entrei e pensei: [pelo
menos a minha mãe não vai ficar tão irada]. Logo na entrada havia uma seta
apontando pra um banquinho daqueles de pernas compridas, cujos nossos pés não
alcançam o chão. Diante de mim, vários copos com tamanhos variados e um rótulo
com nomes diferentes em cada um. Perguntei ao garçom, homem de barba longa e
branca:
- Senhor, porque essa quantidade de copos?
- Quem entra aqui sai somente após experimentar todas as nossas
bebidas – ele respondeu.
Sentei e pedi que trouxesse a primeira dose. Ele me trouxe um pequeno
copo desses dosadores, com uma bebida transparente feito água. Apenas olhei e
sorri, mas seu rosto permaneceu sério me observando. Quando encostei a borda do
copo na boca, um vapor ácido entrou pelas minhas narinas me fazendo engasgar e
tossir de tal maneira que parecia querer expelir meus pulmões:
- O que é isso, homem? – perguntei ao conter a tosse.
- Coragem, filho... o nome dessa bebida é coragem e acho que essa é a
dose que você será capaz de suportar...
Virei à bebida na boca e engoli rapidamente. Parecia um chicote a
ricochetear dentro de mim. Esperei com os olhos fechados, cheios de lágrimas
involuntárias, até que viesse a próxima dose.
A segunda veio num copo grande e com um aspecto cremoso. Num tom
rosado apetecia aos olhos... mas ao encostar próximo ao rosto, era possível
sentir um cheiro terrível e nauseante. Olhei para o garçom que fez um gesto
ordenando que eu experimentasse. Bastou tocar os meus lábios para sentir um
sabor indescritivelmente agradável. Com um sorriso o garçom me disse:
- Essa bebida é o amor... difícil de experimentar, mas quando se tem o
primeiro contato não há sabor melhor!
Entre uma e outra bebida o garçom me apontava uma mangueira fina com
um bico em forma de piteira, onde eu sugava um líquido extremamente amargo. Antes,
porém, de seu sabor acre inundar minha boca ele cortava o líquido e trazia o
próximo copo.
O terceiro copo tinha um aspecto extremamente aversivo. Era como se
fosse uma vitamina de abacate com a aparência de lodo por dentro do copo. Sua textura?
Parecia a textura de piche e ainda era quente. Sabor? Sinceramente não me
lembro, tão sofrível que era conseguir produzir alguma saliva para fazê-la
derreter e eu pudesse engolir sem que ela me obstruísse o esôfago. Olhei desesperadamente
para o garçom, antes mesmo de chegar à metade nauseante do copo:
- Essa é a dedicação, meu filho! – respondeu demonstrando extremo equilíbrio.
Já estava cansado e bêbado quando ele me trouxe a quarta bebida. Comecei
a pensar que aquela mangueirinha com aquele líquido amargo me embebedava muito
mais do que as próprias bebidas em si. Recebi o próximo copo do tamanho de um
copo americano. A bebida era vermelha com mesclas alaranjadas e parecia estar
viva. Ao encostar-se aos lábios ela queimou... queimou minha boca como se fosse
brasa viva e derretida...pensei que morreria ali naquele mesmo instante.
- Essa se chama compreensão, meu filho... é difícil, não é?
Apenas meneei a cabeça afirmativamente...
Suguei a piteira do tubo, para em seguida perguntar:
- E o que é essa que sugo entre uma e outra?
- A paciência, filho... é preciso ter muita paciência para manter o
equilíbrio!
Eu estava muito bêbado, quase entrando em coma quando comecei a
chorar. Entendi que a minha mãe tomava todas aquelas doses todos os dias, para
poder suportar a vida de nos educar, ensinar os princípios necessários para que
o mundo batesse menos em nós. E eu estava ali a poucos segundos de desmaiar
pela fraqueza de ser apenas um homem, desprovido da capacidade de virtudes
infindáveis que possui uma mãe.
Acordei somente hoje, após vários dias de coma alcoólico, e ainda
sinto os efeitos colaterais que aquelas virtudes provocaram em mim.
Dedico essa homenagem a minha filha Layla Alessandra, a minha irmã Rosilene dos Anjos e a todas as mães que conheço e que não são mães apenas por terem tido crianças, mas por amor ao ofício!!! |