Seja Bem Vindo!

A democracia é um sistema sustentado por quatro pilares: a mentira, a hipocrisia, a falsidade e a amnésia!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Despertar


Sonhar com você
É muito bom
Imaginar-me
Em seu batom
Ouvir o som
Da sua voz
Pensar em ti
Pensar em nós...
Querer olhar
Você passar
A desfilar
Só para mim
Doce ilusão
Imaginar
Que isso possa
Ser assim...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Abandono


Me largo no abandono da estrada
Ouvindo o canto choroso dos pássaros noturnos
Com seus pios piedosos e soletrantes.
Acho que calculei mal os passos
Tendo torcido o pé ao pisar em um buraco
Buraco oculto sob uma rama de erva daninha...
Me largo no abandono dessa rocha
Onde me sento pra contemplar o ocaso
Que por acaso ainda é o amanhecer
Mas já não tenho argumentos para pedir ajuda
E por essa trilha são poucos os caminhantes.
Quero apenas sentar e esperar que as coisas se encaixem
Mas não quero uma espera pacífica
Por pior que seja
Quero ser dono do meu próprio abandono
Sem enganos
Sem ilusões
Sem desejos impossíveis
Apenas administrar o abandono que corrói a alma
E as vezes até tira o sono...

domingo, 11 de dezembro de 2011

Acho que Morri e não Fui Enterrado...


Hoje estou catando meus pedaços
Que se espalharam na última explosão
De onde arrancaram cavacos
Do corpo
Da alma
Do coração...
Fragmentos, farpas, cacos,
Deixam frestas em suas emendas,
Espaços que jamais serão preenchidos
Vazios dos que não se remenda.
Sentado estou no pé da grande escada
Observando os que sobem sorridentes
Lembrando-me da minha escalada
E do tombo que levei, abruptamente!
A lua enlamecida que desaba
Sobre o rio negro de águas turbulentas,
Flamejando seu brilho amarronzado
Que entontece o lirismo inocente.
Procurei alguns versos na memória
Mas uns seixos encontrei ali jogados
Como leito de um córrego que agora
Tem suas águas, o seu viço, esgotados!
Catarei todos os pedaços que encontrar
Colarei com a cola da ilusão
Preencherei com cuspe os espaços dos cavacos
Remendarei com fita o vão do coração.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Atualização


Hoje não estou vazio
Não estou nu
Não estou nada...
Hoje estou feito uma pedra
Que colhem no chão
E atiram na água.
Uma pedra que pensava
Preciosa
De lugar qualquer ficado
Esperando a mão teimosa
Que pegasse
Não jogado...
Hoje sou um terreno baldio
Cheio de insetos
Cheio de mato...

sábado, 3 de dezembro de 2011

Pedaços de vida sem noção

Às vezes caminhamos cegamente
Pedaços de vida sem noção
Que levam nossos dias sem pedir
Roubando o que poderia ser tão bom
Os olhos cegos levam-nos por trilhas
Que nem sabemos (se) e onde vai dar
Roubando-nos o tempo e o percurso
Pra em lugar nenhum se alcançar...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Ocaso


Se hoje sou uma folha
Que se desprendeu do galho
E caiu ocultamente atrás de uma moita
Onde os raios do sol não alcançam;
Se sou aquela gota
Que desce na ponta da tromba d’agua
Que compõe a cachoeira
E submerge abrindo espaço
Para o fundo o poço
Onde os raios solares não alcançam;
Se da flor sou aquela pétala
Que se despregou do bulbo
Colorindo tenuemente o chão
Por baixo das folhas secas
Onde os olhos humanos não veem...
E onde desbotará mesmo sem a ação do sol;
Se sou aquele verso
No meio do poema
Que serve apenas de ligação
Aos versos principais...
Se folha:
Vou esperar que um novo vento sopre
Me tirando de detrás da moita
Mesmo que seja para humificar a terra
Com minhas propriedades,
Pois clorofila já não haverá
Para purificar o ar
E através dele trazer vida!
Se gota:
Vou emergir
Trazendo comigo a coisas do fundo do rio
Tentando voltar à correnteza
Para tentar reluzir aos raios solares
Purificando novamente meu ser!
Se pétala:
Me espalharei pela terra
Por baixo das flores
Tentando transmitir minha cor
A algum inseto exótico
Que possa equilibrar a natureza!
Se agora sou o silencio da madrugada
Aquele momento escuro
Quando os grilos se calam
Os pássaros não cantam
É porque o sol brilhou para mim
Apenas no final da tarde...
E talvez eu nem alcance um novo amanhecer.
Mas ainda serei grato
Por ter recebido sua luz
Seu brilho
Seu calor
Porque muitas folhas nascem
Crescem
Vivem por baixo de outras folhas
Sem nunca sentirem o calor do sol.
Muitas flores nascem nas sombras,
Muitos rios estão submersos no fundo da terra...
E existem palavras que nunca se tornaram poemas;



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Face e a Terra


,porque os rios são lágrimas
Que descem pela face da terra
Lavando os desamores que enrugam suas costas
Suas crostas
Seus sulcos,
Transformando em pedra o seu interior...
São lágrimas incessantes pelas perdas,
Essas perdas diárias da vida,
Da natureza,
Da fauna, da flora,
Da beleza...
É que os rios regam a face da terra
Que traída sempre se dá
E recebe enxadadas, machadadas,
E o fogo que devia arder de paixão
Arde queimando sua pele,
Seus pelos,
Sua tez delicada e enverrugada,
Condenada pelas mãos dos homens
Que não sabem amar...
Entender...
Lutar...
Respeitar quem tudo lhe dá!
E os rios descem pelos sulcos
Da nossa pele
Da nossa face
Do nosso rosto
Que como a terra recebe marteladas,
Marretadas
E quando o fogo queima por dentro
É sufocado
Abafado
Atrofiando as coronárias que sutis
Infeliz
Tentam desistir de abastecer o coração
Que como a terra ainda teima em existir
Resistir
Suportar
A indiferença da paixãO

sábado, 19 de novembro de 2011

Prêmio Literário!


Hoje não vou postar poesia, porque a poesia está dentro de mim sendo curtida, cevada, cultivada. Quero hoje compartilhar com vocês uma nova conquista. O 1º lugar do Concurso SESI Arte e Criatividade, conquistado por mim mais uma vez nesse evento tão grandioso que há 20 anos serve de motivação para artistas plásticos, desenhistas e literatos "anônimos" para o mercado. Essa iniciativa do SESI de Goiás é muito louvável, pois foi a partir dela que tive a noção de que poderia de fato me tornar um escritor como tantos outros amigos que também se autoafirmaram através desse evento.
Lembro-me do primeiro conto que enviei para o concurso Sesi, foi em 1995, se não me engano. Contava a estória sobre o percurso de uma gota d'agua misturada no fluxo normal, desde sua captação no rio, o tratamento, até o desperdício ao ser descartada por um torneira mal fechada, gotejando. Uma idéia com sua originalidade, mas que foi bem mal descrita por falta de técnica, excesso de timidez, e uma máquina de datilografia que me obrigava a não errar de jeito nenhum.
Interessante quando me lembro dessa passagem é pensar que se eu tivesse tido contato com os jurados, eles teriam me dito algo do tipo: "Filho, você deve gostar de escrever senão não teria enviado seu conto, mas tenta aprender a fazer outra coisa, porque tá muito ruim isso aqui...", é claro que não me diriam com essas palavras, mas me diriam algo assim.
Três anos mais tarde escrevia "Retratos de um Passado", que foi um conto baseado em pesquisas e depoimentos da história de uma pessoa com problemas mentais, aliás, a forma como se deu a composição desse conto é argumento para outro conto, uma novelinha, ou até parte do enredo de um livro.
Esse conto me rendeu o 1º lugar em 1998, e me fez acreditar que poderia ser um escritor. Por outro lado, as pessoas que reconheceram a personagem, fez com que passassem a respeitar mais aquela mulher. O conto contribuiu para que a família dela se mobilizasse para encontrar o pai que ela tanto almejava rever, e me demonstrou que a arte de escrever não precisa ser algo que se faz somente por lazer, mas que é possível associar o lazer a algo mais.
Enfim, textos longos são ruins de ler na net, então ficarei por aqui feliz pelo prêmio recebido e mais animado para continuar essa saga de escritor desconhecido que tem seu blog acessado até na Letônia... vai entender!
Aproveitando a oportunidade, informo que o livro "Joyce, a Louca" é uma coletânea de todos os meus contos premiados até 2005. Um livro muito interessante e que está disponível para aquisição no seguinte endereço: www.biblioteca24x7.com.br basta na caixa de pesquisa que fica no canto superior direito selecionar: autor, e na caixa que vai aparecer acima da caixa de pesquisa colocar o meu nome: Silvio dos Anjos... e boa aquisição!

domingo, 13 de novembro de 2011

Canção de Amor e de Derrota


Quando então me enrolar em teus cabelos
E alinhar meu coração aos seus sentimentos;
Quando minhas narinas sentirem o perfume de sua pele
E compensar a minha tez pelos pensamentos
Saberei que o coração não clama em vão
Por algo que aparentemente jamais poderá ser meu.
Se os caminhos que caminho são desertos
E o por de sol que avisto nem é tão alaranjado
De meus olhos as lágrimas que vertem são vãs
Pois representam imaginações fúteis de minha vida imaginária
Que sobeja a falta de uma realidade tão sonhada
Pelos contraditórios vermes, vírus, que aportam em meu peito
Desprovido de antídoto, de anticorpos, de antimágoas.
Se essa vertente hipócrita que nos domina
É capaz de impedir que grande parte a humanidade viva a falsidade
De acreditar que o faz de conta faz parte da vida
E que a vida pode ser eterna se seguir o que a sociedade dita;
A quem acredita que o beijo furtado é um pecado
Talvez nem seja digno do prazer de ser amando,
Porque o amor é a essência da vida e não deve ser algo programado.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Essas Coisas das Quais Não Entendemos Bem...

Ah, esse vento que sopra vagamente empurrando todas as coisas
Esse frio que corta a nossa pele como se a vida se resumisse a vestir blusas
Essa areia que vem com o vento e às vezes enche nossos olhos
Essa escuridão que às vezes nos envolve nos afastando de tudo...

Tudo que são apenas sensações, mas é de sensações que vivemos
E são essas mesmas sensações que nos enchem de prazer, vitórias e angustias
E quando menos se espera, no piso sólido surge uma mancha de graxa
Essa coisa escorregadia que quase nos joga ao chão...

Quando então cingir minha alma com a luz dos seus olhos,
Labaredas flamejantes do fogo interior que nos queima intensamente
Quando essa luz brilhar sobre mim, em mim, me queimando as retinas
Com a intensidade de um maçarico a me derreter os sentimentos ruins

Quero sorrir e cantar, mesmo que desafinado
Mesmo que eu pareça leso por atitude tão infantil
Pois a vida não dá calores e amores a quem não está pronto pra recebê-los
E mesmo que receba sem estar preparado não saberá o que fazer com eles

domingo, 30 de outubro de 2011

Dias e Dias

Sempre que eu acordar

Olhar

Esperar

Não te ver



Sempre que eu retornar

Procurar

Observar

Não te encontrar



Sempre que eu disser

Amor

Paixão

E você não escutar



Vai ser um dia a menos

Que vivi

Sobrevivi

Passei... enfim...



Que perdi!

sábado, 29 de outubro de 2011

Bela Menina



Dorme bela
Sono tranquilo
Um sonho lindo
A lhe envolver.
Pele alva
A luz do sol
Lua bonita
A lhe cobrir.
Dorme e encanta
A lente ativa
Que fotograva
Beleza viva,
Para envolver
Nossos olhares
Com sua beleza
Tão feminina.
E a inocência
Não tão menina
Que de meus olhos
Olhares roubam
Mesmo distante
Por uns instantes
Extasiante
Bela menina.

domingo, 23 de outubro de 2011

Caminhando

Queria poetizar
Delinear os contornos dos nossos sentimentos,
Poder apalpar
As coisas que amiúdam meu coração
Para as outras coisas do mundo.
Poder entrar nas janelas de seus olhos
Para habitar completamente
Em você...
Caminho cada passo
Eu sua direção,
Pois sou um homem forte
Capaz de te dar proteção,
Mas homem frágil
Capaz de te pegar
Deitar-te eu meu colo
E cantar o amor para você
Sem qualquer temor.
Vou escalar cada degrau
De seu coração
Vou alcançar o trono
Do para sempre
Que há em sua alma
Desde o seu nascimento.
E quando beijar seus lábios
Vou impregna-los do gosto
Agridoce do amor
Que inunda a minha alma
Enche meu coração
E comanda o meu pensamento
Que em uma única voz
Repete a todo instante:
Sou de você...

sábado, 15 de outubro de 2011

O Ser Existencial do Amor

Aqueço-me em meus vagos pensamentos
Não vagos por não pensar integralmente
Mas vagos por seus olhos serem cegos
De imagens realistas de memória...
Deponho no grande júri da esperança
Lembrança do que não me foi vivido
Que embora esteja vívido em Minh’alma
Não foi presenciado por meus olhos.
Meus olhos que as memórias me enganam
Mostrando-me minhas divagações
Em solo fértil eu me deleitando
Em vales, montes e em depressões.
A fruta que os meus olhos me contemplam
De agua enche a boca da ilusão
Provocando uma sede insaciável
Me dando o sabor doce do mel
Fazendo-me sentir o seu sabor
Cheirando o perfume da primavera
E a delicadeza de uma flor.
A dor, a dor, a dor é de renúncia
Que em nada vai forçar-me a fazer
Deliro então nos sonhos mais bonitos
Nos sonhos que me elevam até você.
O cheiro, o cheiro, a pele, o cheiro puro
Inalo sem pudor, inalo enfim,
Sugando as sensações desse obscuro
Desse obscuro sonho que há em mim.
Renego?
Não renegarei a vida
A vida que meu sonho construiu
E fez-me aqui chegar com tanta garra
E deu-me a chance de me redimir.
Agarro-me então na própria força
Como um autômato de força em mim
Querendo acreditar e acreditando
Que tudo então terá um belo fim.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Céu de Um Poeta

A mente de um poeta é um céu
Ora azul e límpido,
Ora nublado e negro.
Um céu onde brilham estrelas cintilantes
Mesmo que por debaixo de uma tempestade.
Onde nuvens brancas fazem jorrar chuvas de palavras,
Onde nuvens negras fazem trovejar palavras e chuvas.
O céu de um poeta
É o mundo em sua volta,
Com suas nuvens brancas
Com suas nuvens negras.
Onde a vida troveja coisas tristes,
Onde a tristeza frutifica alegrias...
E a complicação de tudo
Se descomplica em seus versos ferinos,
Perseguidores das almas secas
Incapazes de sensibilidades.

domingo, 9 de outubro de 2011

Sem Rede

E nada além do que de repente, tudo para.
O sol escurece
A orquestra fica muda
As flores murcham
A lua se quebra como uma bola de cristal barato.
Como se a vida pedisse uma pausa
Como se fosse possível usar uma borracha
Para apagar as pegadas cravadas na vida;
E das lágrimas que tecem a saudade
A angústia de não saber os porquês...
Água salgada que banha a pele trêmula do rosto
Malogrado pelo silêncio das coisas que...
Uma porta que de repente parece não levar a lugar algum
Mas que foi promessa de um novo caminho.
É o ocaso,
O sol que parece não nascer mais
Uma terra que não receberá mais chuva
A fonte que secou
Não haverá mais rios para evaporar o líquido
Transformar em nuvens e depois fazer chover
A chuva da vida
A água que fertilizaria o solo que agora é árido.
A sensação de derrota
Desprezo
Solidão...
Não haverá mais risos
Sorrisos
Sonhos
Vida
Essa coisa besta que nos faz ser o que somos
Mas que somos somente quando estamos umedecidos
Pelas águas desse sentimento lindo, fértil,
Apenas um gosto amargo de lembranças
Até que
De alguma forma
O sol rompa as barreiras do negrume
E ilumine
Brilhe
Faça renascer o viço da vida...!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Casa e a Tempestade

Queria mesmo é que o tempo esculpisse em você
No espaço que resta daquilo que você nunca quis;
Sucumbisse em sua alma esse molde que em mim é voraz
E preenchesse as lacunas que hora se fazem surgir.
Que nos umbrais das janelas cravassem meu nome enfim
Como grife de um coração que não se venderá
Mas valora seu corpo, seu viço, seu se for capaz...
E se crava na vida que vaga em dúvida atroz.
Esse redemoinho gigante que tanto vento traz
E que surge do nada tentando varrer os umbrais;
As janelas que batem suas abas
Com o vento atroz
Que ecoa com surda rotina e força feroz
Nesse campo florido, o campo bonito de nós!
Mas
Se as paredes não forem concreto e ferro enfim
Se na laje as telhas estiverem só ao deus dará
Se as portas sem trancas, sem calço estiverem assim...
Sem calçadas em volta da casa pra terra ficar
Não importa a mansão que tentamos então construir
A enxurrada e o vento sem dó sem pudor levara
A ruína da casa tão bela que se construiu
Em entulhos
Lembranças
Saudades
Se transformará.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nossas Dores

Poderia escolher qualquer coisa
Poderia nunca partir
Simplesmente, poderia ficar;
Poderia não tentar
Poderia simplesmente me manter inerte;
Poderia não buscar
Apenas esperar o que viesse de bom grado...
Poderia escolher não sofrer
Pois as escolhas certas ou erradas
Sempre nos cobram alguma coisa;
Poderia me calar
E não expor meu coração, a minha alma,
Deter-me no trivial
Ocultar-me
Viver o que se denomina de normal.

Mas não conheceria as dificuldades da vida
As coisas que me enlouqueceram, algumas vezes,
As dores que quase destruíram a minha alma,
Mas que serviram de combustível
Para que eu desse mais um novo passo.
Não teria aprendido a caminhar
Mesmo quando parecia estar sozinho
E precisei me apoiar nos calos
Das quedas involuntárias
Que os novos caminhos me aprontaram.
Não teria sabido responder à vida
Quando fui radicalmente desafiado
E tive que buscar os argumentos acumulados
Nas experiências vis que obrigaram
A aprender respostas certas...
Não teria aprendido que a vida
É feita de quedas e glórias
E que os calos do corpo e da alma
São argumentos marcados em nós
Para que a vida se torne verdadeiramente bela...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Baker

Baker estava entristecido. Naquele dia ele não à veria. Seria o primeiro dia depois de tantos meses de emoção compartilhada. Seus olhos estavam úmidos e sua boca com os lábios apertados ainda sentia o sabor do último beijo.
Ela parecia nem se importar com tanta contrição de Baker. Sorria e pulava satisfeita pela liberdade que adquiria a partir daquele dia. Seus olhos brilhavam de alegria e sua boca, cheia de batom, esperava pelo próximo beijo. Não o beijo rotineiro de tanto tempo - pouco tempo para Baker - de um relacionamento - agora, esmaecido para Baker - amoroso e sem angústias maiores.
O espelho - “aquele objeto prata?” reflexivo e/ou refletivo - diante de Baker parecia um monstro. Exilado da naturalidade da vida, Baker contristava-se por perceber sua pele enrugar-se. Seus olhos sem brilho, fixavam-se na sua imagem refletida e reflexiva projetada naquele espelho. Um jovem escondido por detrás daquela imagem falecia envolvido pelo medo de ser que o tempo obrigava-o a encarar enquanto encarava a sua própria imagem projetada naquele espelho.
Vitorioso? É o como deveria sentir-se.
E Ela era fresca como as flores do campo. Seu olor espalhava-se como a brisa das manhãs de primavera em campinas floridas, onde a natureza se renova a cada dia expondo uma beleza crescente e extasiante. Seus olhos, de azul celeste, espalhavam-se na vastidão impondo uma eternidade incômoda incompreensível incutida de incauto fulgor de reminiscências. Vibrante era a Sua força de feroz voz e fugaz fantasia que freme como o vento vadio que às vezes esvoaça em nossos pensamentos varrendo a nossa razão. Molemente linda e lânguida seus braços de laços enlouquecedores leva a letargia cobrindo com um lençol de lembranças lúdicas e levando nossa vontade pelas águas dos rios da vida.
Uma lágrima solteira se solta do olho esquerdo de Baker escorrendo-lhe pela face de pele ressequida. Obra daquela visão inconveniente para um homem como ele que sempre fôra vaidoso. Especialmente naquele dia, Baker sentia-se impotente diante de tanta juventude. Era assustador perceber, logo agora, que a vida passara rapidamente sem que ele ao menos percebesse. Sentia-se jovem até ontem. Perturbava-o saber que tudo mudava repentinamente estimulado por uma simples decisão. Sabia que mais cedo ou mais tarde, todo homem é obrigado a parar e refletir sobre si mesmo, mas não imaginava que pudesse ser tão doloroso.
Seu peito doía de remorso por estar ali diante daquele espelho. Penetrando naquele espaço virtual, não compreendia as dimensões escondidas nas profundezas daquela 'planitude' do espelho. Fosse a vida plana como o espelho, não estaria ele aprofundado naquela lamúria e percalço de ambíguas reflexões metafísicas, pois o ponto de vista é básico para determinar a conclusão. Poderia ali mesmo perceber o quanto estava sendo vitorioso, mas suas reflexões não conduziam para tal fim. Fim era um termo que passava pela sua cabeça confusa, covardemente, diante daquela esfera brilhante que transcendia a 'planitude' do espelho.
Dos cantos dos seus olhos perturbados surgiam alguns veios que cortavam levemente a carne, denunciando a vida. “Cavalo dado não se olha os dentes", pensou estupidamente e sentiu-se ainda mais animal e menos valoroso que um cavalo. “Se alguém o desse, quem o aceitaria?”, pensou em voz baixa. E uma lágrima vadia volta a despregar-se de seu olho esquerdo.
Até ontem os seus pensamentos eram os mesmos de sua juventude quase irresponsável. Pensava, naqueles tempos, que com o decorrer dos anos essas coisas também se transformariam deixando as velhas fantasias esquecidas nos cantos da alma, criando teias de aranhas neurológicas. Mas estava ali, diante daquele espelho, que refletia sua imagem transformada com os mesmos pensamentos incutidos e incultos.
Nesse momento em sua boca, o aroma fresco do último (ou primeiro?) beijo emocionou-o. Não somente uma lágrima solteira percorreu o seu rosto que começava amassar-se. Lágrimas e mais lágrimas começaram a rolar lavando-lhe a pele seca que, agora umedecida, renovava-se num êxtase vibrante e jovial.
A sensação que se tem é de que Ela nunca envelhece. Como uma rosa vermelha e cheirosa, espalha o seu perfume suave e sua beleza delicada que enfeita os jardins daqueles que a buscam pela vida afora. Gotinhas de sereno perfeitas sobre as pétalas denunciam sua jovialidade eterna e paradisíaca. De pele suave que provoca o desejo de não ser tocada para não ferir. Mas as mãos, diante de tanta emoção, se impossibilitam da imobilidade e tocam-na sutilmente arrancando-lhe suspiros ternos e prolongados. Os lábios também vermelhos tocam-lhe a pele, da mesma cor, com gestos lentos e febris. E os gemidos de satisfação entrecortam as dimensões que separam os seres dos sonhos e da realidade. Sua delicadeza é tão contundente que se torna impossível não penetrar nessa Sua dimensão etérea.
E Ela, a juventude, renasce mentirosa e traiçoeira.
Baker sorri com o rosto ainda banhado de lágrimas. Uma descoberta, ou redescoberta de seu próprio eu que poderá renovar-lhe o espírito ainda jovem que dá vida à carne envelhecida. Ele deveria estar preparado para as traições da vida, mas não estava. Sorri diante da própria ingenuidade de ser um homem adulto com medo de sê-lo. Conhece a sorte o bastante para saber que ela não existe. Aquele momento, então, deve ser cerimonioso. Percebe que seus momentos são únicos diante da impossibilidade de renovar-se, o tempo de vida, e por isso tem que ser aproveitado em toda a sua plenitude. E agora Baker sente-se feliz por perceber que é um homem e como tal, pode penhorar suas experiências em troca de conquistas. E isso, ninguém poderá tirá-lo. A não ser eLA, quando vier. Mas que isso fique para depois. Esse é o momento. Viver é a palavra de ordem. E Baker consegue se olhar no espelho sem qualquer constrangimento. Lágrimas? sim. Quantas vezes for preciso, desde que sejam de felicidade.
É preciso renovar-se a cada dia. É necessário assumir novas experiências. Baker sabe disso e deseja dizer ao mundo.
E eLA, a sua noiva, finalmente vem buscá-lo.
Um terno sóbrio cobre o corpo de Baker. “Gravata vermelha? é elegante, mas coloca uma mais discreta !” Afinal, Baker vai se casar. Olha-se no espelho e sente-se feliz. Sabe ter aproveitado bem a sua juventude.
Com a pele do rosto totalmente amassada, Baker alegra-se por, ainda assim, conquistar uma noiva. Bela e fresca. Com o aroma das flores do campo que perfumam o universo durante a primavera. Lânguida e linda.
E todos entram na igreja, silenciosamente, para contemplá-lo ali, sorrindo, diante do altar... enquanto Baker, sorrindo, penetra no espelho...