Se hoje sou uma
folha
Que se
desprendeu do galho
E caiu
ocultamente atrás de uma moita
Onde os raios do
sol não alcançam;
Se sou aquela
gota
Que desce na
ponta da tromba d’agua
Que compõe a
cachoeira
E submerge
abrindo espaço
Para o fundo o
poço
Onde os raios
solares não alcançam;
Se da flor sou
aquela pétala
Que se despregou
do bulbo
Colorindo
tenuemente o chão
Por baixo das
folhas secas
Onde os olhos
humanos não veem...
E onde desbotará
mesmo sem a ação do sol;
Se sou aquele
verso
No meio do poema
Que serve apenas
de ligação
Aos versos
principais...
Se folha:
Vou esperar que
um novo vento sopre
Me tirando de
detrás da moita
Mesmo que seja
para humificar a terra
Com minhas
propriedades,
Pois clorofila
já não haverá
Para purificar o
ar
E através dele
trazer vida!
Se gota:
Vou emergir
Trazendo comigo
a coisas do fundo do rio
Tentando voltar
à correnteza
Para tentar
reluzir aos raios solares
Purificando
novamente meu ser!
Se pétala:
Me espalharei
pela terra
Por baixo das
flores
Tentando
transmitir minha cor
A algum inseto
exótico
Que possa
equilibrar a natureza!
Se agora sou o
silencio da madrugada
Aquele momento
escuro
Quando os grilos
se calam
Os pássaros não
cantam
É porque o sol
brilhou para mim
Apenas no final
da tarde...
E talvez eu nem
alcance um novo amanhecer.
Mas ainda serei
grato
Por ter recebido
sua luz
Seu brilho
Seu calor
Porque muitas
folhas nascem
Crescem
Vivem por baixo
de outras folhas
Sem nunca
sentirem o calor do sol.
Muitas flores
nascem nas sombras,
Muitos rios
estão submersos no fundo da terra...
E existem
palavras que nunca se tornaram poemas;