Seja Bem Vindo!

A democracia é um sistema sustentado por quatro pilares: a mentira, a hipocrisia, a falsidade e a amnésia!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Kaótico

Então arranquei da impessoalidade o im para poder me aproximar cada vez mais. Temia os ventos fortes que te rodeavam como redemoinhos ininterruptos. O trigo que crescia ao seu redor, quase cobrindo nossas cabeças, era apenas o retrato da fartura que viria, se eu mantivesse o im distante, não obstante impresso nas cavas fundas feitas pelos ventos dos redemoinhos. Olhei profundamente em seus olhos de luz de sol, e ceguei minha visão da alma. Tão soturno fiquei na minha noite, mas com estrelas cintilando dentro de mim, estrelas suas, estrelas fabricadas pelo brilho de seus olhos, dois sóis, duas fontes de luz.
Feliz eu reclinei e abri as janelas que pude abrir, para que o raio de luz do seu olhar, seus sóis, entrasse e abominasse o mofo que jazia no interior de minha alma. Pois somente aquela luz brilhante, incandescente, quente, poderia usurpar a alegria que estava oculta no canto de um armário perdido, e depois devolvê-la a mim, sem cobrar, sem julgar os dias pálidos e mofados que me condenaram a viver naquela falta de luz.
Vi então que iria acontecer e não perdi um só segundo, um só raio, um só facho de luz que penetrou pelas janelas aquecendo o interior nebuloso, que agora se revigorava ensimesmado perguntando-se de onde vem tanta energia.
A vida parece um tabuleiro de xadrez onde os jogadores de igual modo vencem uns aos outros, mas às vezes empatam. Jogadores que desconhecemos, mas que por desígnio do destino manipulam as pedras com mãos ágeis, mentes brilhantes, numa luta sem precedentes onde as pedras mudam seus valores constantemente.
Mas os ventos continuam investindo alucinadamente, tentando arremessar as pedras do tabuleiro à distância. O im, porém, está enterrado... estamos tão mais próximos que nossas rainhas e reis confundem os jogadores. As cavas feitas pelos redemoinhos, já não parecem tão ameaçadoras...  e o vento, e o tempo, se encarregarão de produzir os pães com os trigos que crescem, e assim fartar nossa fome imensurável...

sexta-feira, 25 de março de 2011

Antes do pôr de sol...

Não vou debruçar minhas pálpebras antes do sol se por. Quando a lua banhar a terra com seu brilho prateado, ainda estarei domando os leões que a vida nos presenteia. A luz da lua será apenas um dos recursos que usarei para seduzir o tempo ordinário, que corrompe o templo terra fazendo de tudo um ciclo. Levantarei os braços em sinal de vitória e avisarei ao vento que as notícias viajam mais rápido que ele. Comentarei comigo mesmo, sobre a vida que não tive e os amores que perdi por não saber onde encontra-los.
Cochicharei com as formigas que fizerem suas trilhas para o meu rumo, e contarei segredos que tenho guardado por todo o dia. Sei que elas não me compreenderão, mas não deixarei de conta-las. Porque a chuva cai e enche suas casas de água, e elas continuam insistindo em mantê-las no chão.
Não olharei para os rios que correm sempre para o mesmo rumo, e trafegam sempre nas mesmas valas. Os rios não conseguem fugir de suas próprias rotinas, e se lhes tiram os leitos de nascença, eles morrem. Não olharei os rios, embora os mesmos sejam grandes exemplos de perseverança. Quero mesmo é olhar o sol, antes que se ponha, e caminhar aparentemente sem destino. Quero olhar a lua, quando anoitecer, e caminhar tateando os obstáculos maiores.
Quero mesmo é viver as grande coisas da vida...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Quando o dia amanhecer...


Eu vou apenas me calar por uns instantes, enquanto sorvo o gosto amargo da desilusão. Uma flor que murcha em pleno viço, soltando as gotas do orvalho que, como lágrimas, sorveram-lhe a esperança de espalhar o seu perfume pela brisa da manhã de primavera. O cálice de vinho que se derrama, antes mesmo que os lábios finos e delicados sorvam o seu líquido vermelho e embriagante.
Vou deitar-me no gramado viçoso, antes que o sol se ponha no horizonte rijo de montanhas mesquinhas que lhe ofuscam o brilho no entardecer. Antes que os pássaros diurnos recolham-se aos seus ninhos, temendo que as aves noturnas, de rapina, lhes roube a vida de cantar. Antes que o sono canse minhas pálpebras e eu tenha que cair com o corpo vazio e pesado nesse gramado que pode estar escondendo armadilhas vorazes.
Quero acordar de manhã, sentindo o cheiro do orvalho e vendo a aurora alaranjada, prenuncio de um dia frio, desenhado nesse céu pintado a mão. Meus olhos não quererão atingir distâncias tão significativas, temendo ver o que não quer ser visto. Meus olhos tingirão sua própria imagem, tentando enganar o coração que padece com o deitar do sol, e as esperanças que ele leva a cada final de dia.
Preciso apenas compreender que a vida não pode criar arranjos, pois precisa seguir um curso que contemple a felicidade de muitos. Compreender que os por de sóis, apenas representam o final de uma etapa, e que no dia seguinte muitas alegorias podem trazer ocultas, a felicidade que todos nós buscamos a cada amanhecer.
Basta então eu compreender que dessa vez eu perdi... mas que amanhã será um novo dia... apenas isso, por enquanto, um novo dia...!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Flor de Lotus

Habito num deserto de areias movediças; onde o tempo não escoa como as águas de um rio. O tempo se entremeia nas areias que, enlamecidas, formam pastas perigosas e atolantes, onde meus pés descalços sobejam à falta de solo firme para me manter em pé. As pernas que, já cansadas, às vezes tremem. Solitárias e paralelas refletem o visco desse mundo independente que habito. Às vezes os meus pés sangram a tortura de não deslocar um milímetro, enquanto minha mente produz imagens velozes sobre a corrida de meu corpo estático. Vejo-me, então, enganado pelos sortilégios da dúvida, que ocultam a verdade maquiavélica sobre a minha existência fictícia. Minha cara sorri, com um semblante bestial de homem reto... (como se houvesse regras claras estabelecidas com intuito infalível de vislumbrarmos um fim exato para nossa medíocre existência).
Adiante uma flor de Lótus, que sobeja beleza dentre a lama opaca da areia movediça. Uma flor que incandesce por seu brilho misterioso e revigorante, mas inalcançável a minha mão atrofiada pelos medos apreendidos durante as noites solitárias e sombrias de tempestades de areia enlamecida. Uma flor que me olha com olhar misterioso, e não confessa diante da minha soturna inquisição. Quero apenas apalpar-lhe as pétalas suaves e macias, suas cores, impregnar minha mão de perfume, seu perfume. Quero encostar suas pétalas delicadamente em meus lábios, para curar minha leseira nessa tasca enlamecida de areia cinzenta. Quero me aportar em suas pétalas, aconchegando-me como se estivesse em um berço de amor... deter-me por muitos instantes em seu perfume suave e entorpecente. Quero ouvir o sussurrar de sua voz suave de flor fina e sensível, sibilando como aves diurnas chorosas, cantando o hino dos anjos para que meu sofrimento se amenize.
Quero conseguir viver para plantá-la em terra adubada, regá-la com água doce e pura, apontá-la para o sol da manhã que fortificará suas cores e perfume. Quero que você me responda as inquisições, pois sou um ser medonho da lama de areia, tão bisonho quando as bestas noturnas, mas com um coração que pulsa descompassadamente desde que viu nascer à flor de lótus...

domingo, 20 de março de 2011

Conselho bom, não se dá!



Porque, então, você faria algo diferente? Se é tão fácil acordar pela manhã, olhar o tempo para ver se está chovendo, tomar um cafezinho com leite e sair para o trabalho? Porque buscar a dúvida do que pode parecer incerto, e jogar fora a certeza do nada consta, pois tudo será como sempre foi? Melhor do que poder sorrir e receber a vida é estar na tranquilidade de não precisar pensar se dará certo ou não. Melhor do que buscar o novo, é sofrer com o que se tem hoje, acreditando que acontecerá um milagre amanhã. Melhor é se desculpar consigo mesmo, e continuar fazendo as mesmas coisas, pois esse caminho já trilhado nos levará a lugares que sempre andamos. Melhor não correr o risco de pisar em terreno escorregadio, ou encontrar centenas de pedras que podem nos fazer calos. Melhor não perder o sono enlevado com o que acaba de surpreender por ser uma novidade.
Melhor ficar ai, eu aqui, a vida passando sem qualquer intervenção que possa obrigar-nos a resvalar em algum percalço...
Melhor é morrer um pouquinho a cada dia... e quando envelhecer, sentar numa cadeira de balanço e começar a se lamentar pelo que poderia ter feito, mas não fez...
Melhor não arriscar...
Melhor é dizer um dia – agora não tem mais tempo... mas poder bater no peito e se orgulhar por nunca ter se arriscado...
Melhor é ser otário!!!

sexta-feira, 18 de março de 2011

O dia que eu Morri...


De certa forma eu poderia estar errando naquele momento. Mas não importava... a luz que reluzia de seus olhos me ofuscava a sensatez, atirando-me num poço de desejos ocultos dos quais eu nem tinha consciência sobre existência dos mesmos em mim. Era manhã, e o sol espelhava seu brilho quente sobre a água límpida. Nada, porém, era mais puro que aquele brilho no seu olhar maduro, consciente, que parecia me possuir o peito ardente que me desamparava diante de ti. Sou o macho, pensei nesciamente. Tenho que dominá-la e mostrar-me firme nesse momento... tenho que manter a frieza típica do meu gênero... não posso ceder... não vou ceder... sou forte... sou macho!
Cai ali mesmo como um rinoceronte abatido por uma simples e fina flecha de um nativo. Cai como um rinoceronte feroz que se deixa abater involuntariamente, por efeito do veneno mortal daquela flecha aparentemente ineficaz ante tanta massa e couraça. Cai diante do astro rei, o sol, que brilhou intensamente sobre mim, mas não conseguiu queimar a minha pele mais do que o seu olhar queimava o meu coração. Mas foi tão rápida e efêmera sua passagem... como uma brisa num dia quente de verão.
E ficou vazio... tão oco como aquele rinoceronte atingido pela flecha ao cair e sentir suas pupilas dilatarem, enquanto o veneno embrenhava-se na sua corrente sangüínea e ele compreendia que não teria mais tempo. Então me perguntei... por que a flecha acertou em mim? Teria sido eu apenas vítima de um predador sagaz, ou talvez um caçador desportista, tão metódico quanto aquele que abateu o rinoceronte?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Meu Coração Bandido


Visto-me de qualquer coisa
Que esconda meu corpo infame
Que deseja ardentemente
A beleza de sua tez;
Perco-me nas entranhas
De meus sonhos alucinados
Que me elevam deslumbrado
A sua desfaçatez.
Mas o que mais me incomoda
É meu coração bandido
Que num gesto atrevido
Se revolta contra mim;
Fico às vezes desolado
Sonhando dormindo e acordado
Sem saber se do outro lado
Alguém está me pensando.
O olhar fica profundo
Criando seu próprio mundo
Lá por dentro desinibido
Mas me deixando perdido
Nesse elo de agonia
De pensar-lhe todo dia;
E meu coração atrevido
Num gesto muito bandido
Traz desejos tão infames
que ainda que lágrimas eu derrame
de nada me curará.
Preciso é dos seus braços
Em um doce e meigo abraço
E um sorriso apaixonado
Que me deixe amparado
E seja mais atrevido
Que o meu coração bandido
Que então se derreterá.

sábado, 12 de março de 2011

Nessa Noite



Enquanto o mundo trafega em seus sonhos mil, estou aqui parado, diante de uma folha em branco. As janelas entreabertas, com raios teimosos da lua cheia penetrando pelas frestas largas. Meus olhos escancarados fisicamente, mas com as retinas voltadas para a alma que lampeja sentimentos secretos. O barulho do mar na minha cabeça atormentada pela certeza de que nada jamais será como um dia foi. As luzes que flamejam os sentimentos que aguçam as retinas que hora se abrem diante do opróbrio da sutileza mesquinha e rastejante da loucura poética que rompe os últimos laços da lucidez. Escrevo sem perceber as letras que estão manchando as páginas virtuais. Teclo como um ser bestial que lamenta o nascimento de um filho bastardo, mas que surge lindo e meigo pronto para alegrar aqueles que pelos calcanhares da vida se machucaram. Os que sangram a solidão que escorre pelo canto de seus olhos e desce até a boca colocando um gosto amargo, de fel, na língua que um dia profetizou o amor e a riqueza. A ponta do raio da lua agora queima a minha pele nessa noite chuvosa em que os profetas não ousaram profetizar, pois teriam sido chamados de loucos, bisonhos, seres escrotos a enganar o povo que consegue acreditar nas teorias mesquinhas que descrevem o jeito certo de fazer as coisas. Apenas se suas mãos de dedos finos e alvos afagassem minha pele morena. Se seus lábios carnudos e vermelhos me sorrissem como se um anjo de amor tivesse descido para me socorrer. Se o seu corpo branco e cheiroso se encostasse ao meu apenas para eu perceber que não é somente o raio da lua que me queima. Se palavras escoassem e ecoassem pelos meus ouvidos, dizendo-me versos sem rimas, mas que fossem versos pela beleza poética de sua expressividade...
Então nessa noite eu dormiria como o leito de uma represa em dia sem vento, mas não antes de fazê-la vibrar nas melodias do amor entoadas por uma única corda instrumental harmoniosa e vibrante

Passagem inevitável

O tempo é o maior pedófilo que já conheci;
Não poupa as crianças que morrem velhas por sua ação.
Ainda que inocentes, apesar dos anos se passarem,
Das pálpebras caírem;
Das rugas se afundarem;
Das orelhas crescerem;
Dos lábios se murcharem;
Dos cabelos branquearem.
Apesar de acreditarmos no amadurecimento da mente,
Percebemos que somente a carne amadurece,
Amolece, se desfaz, pois apodrece.
Na mente somos crianças eternas,
Brincando de ser gente grande nesse universo viril.
Somos apenas crianças traquinas que não conhecem sequer
O chão que as alimenta;
A água que as sacia;
O ar que as dá vida;
As flores que dão beleza;
E a natureza, esses presente poético da vida.
O tempo com seus ardis nunca nos poupa.
Esse sempre jovem e abstrato tempo,
Que aparece somente pela deterioração das coisas...
Esse pedófilo que nos devora ainda crianças envelhecidas!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Indiferença


Ninguém imagina nada, até que o nada seja dito
e percorra as vielas tristes das madrugadas sombrias
da vida.
Ninguém imagina nada, até que um relâmpago desperte
o sono morto e morno que tempera a lucidez
do dia-a-dia.
Os olhos vidrados olham o mundo que jaz no horizonte
enquanto a gravata apertada justifica o estado letárgico
que mantém o defunto.
Ninguém pergunta nada, até que os sinos da igreja dobrem
em sons funestos cortando os ares ventosos das tardes
ensolaradas.
Ninguém pergunta nada, até que a cigarra pare de cantar
sua música de extridência perturbadora, porque seus pulmões
acabaram de estourar.
Os passos marcam o desentendimento dos pés, um após outro,
num vai-e-vem teimoso de quem jamais quer se encontrar
mesmo sendo iguais.
Ninguém sugere nada, até que a tarde chegue com sua solidão
marcando as coisas do dia que ainda não puderam ser feitas
e nem serão.
Ninguém sugere nada, até que o sol se abaixe na linha do horizonte
e num flamejante e alaranjado último raio brilhante diga com todas as luzes:
agora não tem mais tempo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Divagações

                                     É na calada da noite
                                     Que o poeta busca inspiração.
                                     Em divagações,
                                     Organizadas ou desorganizadas,
                                     Esmerila as palavras
                                     Que darão vida
                                     Ao seu canto poético.
                                     Como a lua,
                                     Que penetra pelas frestas,
                                     O poeta sai da sombra
                                     Da lúcida razão.
                                     Enquanto a cidade dorme
                                     O sono da realidade,
                                     Sonhando com a irrealidade,
                                     O poeta inventivo
                                     Soletra o beaba do amor.
                                     Suplicando por vida,
                                     Real e imaculada,
                                     Pernoita sobre o computador.
                                     Divaga alucinado
                                     Pelas esquinas sombrias
                                     Da imaginação pedante.
                                     Supõe ser discípulo
                                     Da beleza oculta
                                     Da vida inebriante.
                                     Colecionador de lástimas
                                     Com sua alma chorosa
                                     Tenta transformar
                                     A noite solitária e sombria
                                     Num dia claro e vibrante.
                                     Emocionado,
                                     Relata divagações
                                     De seu mundo secreto,
                                     Caverna de solidão,
                                     E acertos malogrados
                                     Com a vida.
                                     Perscruta o caminho da lua,
                                     Com seu brilho de cristal
                                     Que abre trilhas
                                     Na escuridão.
                                     Então o poeta feliz,
                                     Vai dormir seu sono justo
                                     Pensando ter cumprido
                                     Um pedacinho de sua missão.
                                     E quando amanhecer
                                     Que as pessoas retomarem
                                     Seus caminhos de realidade,
                                     Após uma noite
                                     De inverdade,
                                     Nem saberão
                                     Que o poeta sozinho
                                     Varou a noite divagando
                                     Tentando dar luz
                                     A escuridão.