Pensa levantar-se no sábado pela manhã, seis horas da madrugada, para
doar sangue à seringa de um laboratório de hospital. Esse sou eu nessa manhã.
Chegando lá a técnica investiga meu braço – diga-se de passagem, que
somos velhos conhecidos, pois estou sempre indo lá coletar sangue para
verificar meus índices – então, olha pra mim e pergunta:
- O que você anda fazendo que essas veias estão cada vez mais sumidas?
Olhei pra ela e não consegui pensar em outra coisa a não ser em responder o seguinte:
- A experiência de receber sua agulha está fazendo com que elas se
escondam cada vez mais...
E ela passou aquele algodãozinho ordinário com álcool, espetou a
agulha com a suavidade de quem dá um beijo na boca cheia de tesão, e sem
pestanejar encontra o jorro sanguíneo.
- Você também, heim? Não adiantou nada as coitadinhas das veias
treinarem tanto... você tá bem além da técnica de esconderijo delas...
Ela sem se fazer de rogada apenas retrucou:
- É, mas elas estavam bem escondidas...
E disse isso enquanto enchia dois tubos de ensaio gigantes com meu
ouro vermelho, deixando-me pálido e frustrado com minhas veias, naquela cadeira
infame de laboratório...
Aí venho eu com a moral da história:
Se tiver um problema, melhor encarar e tentar resolver logo, do que
ficar criando técnicas de fuga. Problemas não são coisas palpáveis que se possa
trancar num quarto e voltar anos depois pra ver se ele morreu, ou pelo menos
está todo embolorado e enferrujado. Antes de resolver, aonde quer que você vá
ele irá segui-lo...
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