UTÓPICO

Das putas queria a garra

De tantos dias recebendo angústias

De homens torpes e mal amados

De seres pobres e desgraçados

Que nem conseguem uma conquista

Nem uma pista do que fazer.

Do latifúndio a dimensão

Terra ferida pelo abandono das noites frias

Olhos cerrados pela cobiça de beramundos

Que sofrem muito pelo dos outros

Queria ser terra pela cobiça

De pistoleiros que nada sabem

De terra, terra, que produz vida.

Das sentinelas queria a coragem

Para cruzar as noites de olhos abertos

Braços esticados, olhar tranqüilo

Ouvidos aguçados aos sons da penumbra

Mas nenhum medo, nenhum espanto,

De noite adentro sem qualquer susto

E sempre alerta observando.

Dos bêbados dilacerados pela cachaça

Do gosto acre na boca dormente

Do estomago doído e passos tropeçantes

Queria a coragem de voltar no outro dia

Olhar as mesmas caras sem qualquer ressentimento

Andar na mesma rua sem tropeços induzidos

Falar as mesmas coisas até ser atendido.

Das mães queria a fama

O amor e a atenção

Que a elas se dispensa, em todas circunstâncias

Desde que em seus colos esteja uma criança

Desde que seus ventres estejam cheios

Queria de tudo um pouco para ser eu

O invencível dessa tormenta que é a vida

Humanamente observada.